segunda-feira, 12 de setembro de 2011

maçã-do-amor; algodão-doce

não fazia muito tempo que ela trabalhava naquele pequeno circo, mas ainda assim, já estava cansada de todas as ladainhas, e de toda a sujeirada que eram os bastidores daquele lugar. era a bailarina mais talentosa que qualquer um havia visto, só ela não se dava conta disso. ela já não suportava mais fingir que os animais não eram maltratados, que o mágico não era uma fraude, e que a mulher barbada tinha de fato uma barba. ela entrava, apresentava seu belíssimo numero, e sorria ao final da apresentação. ela não podia partir, o circo havia se tornado sua família, seu sustento. o que mais impressionava-a era a delicadeza da maquiagem do palhaço, um artista. feio como poucos, chato como muitos, mas como num toque de mágica mudava. sua boca vermelha, acompanhava o batom, o pó branco escondia as rugas e todas imperfeições. ali começava o show. e o circo a prendia. segurava. a cada cidade, a cada tenda armada, a cada picadeiro. um novo publico, um novo amor, uma nova história. não importava mais pra onde iam. desejava apenas continuar indo. naquela noite, retomou seus rascunhos e colocou em verso suas angustias. saiu mais ou menos assim.

"E montamos novamente o circo.
O picadeiro em festa, o publico vibrando. O espetáculo se apresenta da forma mais inocente possivel.
Quem esta de fora ri. Quem esta ali dentro gargalha.
E acabou.
O povo foi embora. A lona desceu. E eu, o palhaço fiquei ali. Tirando minha maquiagem, estupefato. Como podem se divertir tanto?

Um dia eu entendo. Deixo de ser palhaço, quem sabe viro mágico.
E mágico, me iludo."

2 comentários:

Flah Queiroz disse...

Gostei especialmente do final.

Que haja mágica. Amém.

Poeta da Colina disse...

Invariavelmente cairá o pano.